Por Adriana Maugeri para Revista Opiniões
Estamos testemunhando um momento dramático da humanidade e, ao mesmo tempo, parece que muitos ainda não despertaram para a criticidade. Os efeitos das mudanças climáticas são, inegavelmente, sentidos por todos, independentemente da concordância com a origem, motivos e agente causadores.
Há quem afirme que é um processo natural planetário, que se repete em ciclos, outros que apontam o aquecimento solar e a amplitude de suas tempestades, outros tantos que é uma alteração provocada pelos hábitos, consumos e ações humanas.
Entretanto, há um elo que aproxima as diversas crenças sobre as alterações climáticas: a grande intensidade e velocidade que ocorrem é uma ameaça fática à sobrevivência da vida terrestre. Os pesquisadores e cientistas do IPCC – Intergovernmental Panel on Climate Change —, em português, Painel intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, organização criada no âmbito das Nações Unidas que congrega pesquisadores e cientistas de vários países para monitorar e buscar consenso sobre as mudanças climáticas, recomenda ser necessário reduzir 45% das emissões de gases de efeito estufa até 2030, para evitarmos a elevação da temperatura do planeta acima de 1,5 graus Celsius. Para amenizar esse ritmo surpreendente é também inegável que os comportamentos, processos, decisões e hábitos da humanidade precisam se adaptar e podem exercer uma significativa influência na mitigação, redução e adaptação às alterações sentidas e mapeadas.
Aprendemos nos primeiros anos de ensino fundamental que aqui muito sinteticamente, os vegetais são sumidouros de carbono, fazem a sua absorção de carbono, convertem em energia necessária a sua sobrevivência, fixam-se em sua massa e no solo e liberam oxigênio como resultante. Dessa forma simples, e diante desse contexto alarmante, vemos que as florestas cultivadas e as conservadas são fundamentais para reduzir a intensidade de carbono na atmosfera terrestre. É, aqui, exatamente nesse ponto, que começa (ou continua) a crescente relevância que o plantio de árvores tem tomado, e nesse cenário, o destaque que o Brasil possui por seus distintos números nessa atividade socioambiental, como créditos de carbono, debêntures verdes, entre outros, as empresas que já inseriram o que chamo de governança do carbono em sua estratégia já percebem que o atual manejo das florestas precisa mudar para viabilizar os benefícios.
Não basta plantar florestas como aprendemos décadas atrás. O como plantar, manejar, colher, utilizar e aproveitar o que a natureza nos ensina faz a diferença fática na aliança entre a remoção e a fixação de carbono pelas florestas e a produtividade e multiplicidade dos usos da madeira.
O manejo florestal climático a que me refiro alia, objetivamente, o consórcio e a simbiose entre árvores cultivadas com as árvores conservadas, prática a regeneração, o restauro e o reflorestamento em sinergia, entende e explora, positivamente, a microbiologia do solo voltada para a produção e à melhor fixação de carbono no solo e na árvore, planeja os ciclos de plantios e colheitas para manter o balanço positivo de emissões, atua de forma inteligente com outras culturas agrícolas e não admite resíduos em seus processos que não possam ser reaproveitados, recuperados e, até mesmo, comercializados como novo negócio (aliás, bem lucrativo).
As mudanças na gestão florestal são prementes e exigem um novo perfil profissional que amplie a visão das possibilidades do alcance de nossa dinâmica agroindústria. O investimento, não somente financeiro, mas de aprendizado, trocas de experiências, inovação, pesquisa, parcerias, especialmente nas ciências que remetem à reaproximação com que a sábia natureza já prática, em alinhamento com as novas ferramentas que impulsionam nossa velocidade e alcance, como inteligência artificial, a internet das coisas, as neurociências do comportamento e a resposta humana, já colocam em vantagem quem vai se destacar em soluções para os problemas atuais. Mas não será mais a valorosa e perseguida vantagem tão somente econômica e política, como assistimos até aqui. Serão distintos e valorizados aqueles que, também, trouxerem vantagens à nossa qualidade de vida e bem-estar ambiental.
A agroindústria florestal possui um diferencial bastante peculiar na governança climática global. Ao ofertarmos a expansão dos plantios comerciais aliados à conservação, praticamente em proporções idênticas, proveniente do manejo florestal climático, somos, talvez, um dos poucos agentes que pode neutralizar significativa parcela das emissões globais de gases de efeito estufa.
Entretanto, é urgente a mudança de pensamento e orientação daqueles que ainda não entenderam que para se aproveitar dessa vantagem competitiva já é hora de erguer as mangas e trabalhar, incansavelmente, como time multidisciplinar em busca de novas formas de se produzir e disponibilizar madeira (com muito carbono estocado) para uma crescente indústria de bioprodutos. Nesse processo de despertar, é crucial sair do discurso vitimista, pessimista e polêmico.
Ainda vejo muitos profissionais, e até empresas em massa, tão somente se lamentando o porquê de nosso setor não ter tanto “prestígio” social e político, como é merecedor, por que nossa produtividade está caindo, por que o partido A ou B chegou ao poder, enquanto nossos negócios esperam por atitude.
Não que discorde de que são muitos os problemas e dificuldades enfrentados, mas somente o lamento não fará a menor diferença.
Sinto falta e viso despertar em minhas atuações por mais atitudes, promoção de parcerias, desenvolvimento real da silvicultura do novo século. O mercado caminha para consolidações e agrupamentos de forças para sobrevivência, mas aqueles que encontrarem a chave da virada e entregarem, de forma diferenciada e holística, os resultados que hoje estamos acostumados, serão mais admiráveis e, certamente, mais rentáveis respirando um ar muito mais adequado, inclusive.
Esse artigo de opinião é de uso livre e irrestrito desde que seja creditada a autoria à equipe da Associação Mineira da Indústria Florestal (AMIF).