
Uma nova espécie de árvore, até então desconhecida pela ciência, foi descoberta no município de Coronel Fabriciano, no Vale do Rio Doce (MG). O achado aconteceu em uma área remanescente da Mata Atlântica, monitorada e conservada pela empresa Cenibra, e foi realizado por pesquisadores do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
A nova árvore pertence à família Myrtaceae, a mesma das jabuticabas, pitangas e goiabas, e foi nomeada Myrcia magnipunctata. Ela se destaca pelas folhas longas, caules recobertos por pelos marrom-avermelhados e por apresentar pequenas pontuações translúcidas, que inspiraram seu nome científico (em latim, “com grandes pontuações”).
Segundo os pesquisadores, a árvore pode atingir até seis metros de altura e, por enquanto, só foi encontrada em São José dos Cocais, distrito de Coronel Fabriciano. A descoberta foi liderada pelo doutorando Otávio Miranda, com apoio do Grupo de Estudo em Economia e Manejo Florestal (GEEA/UFV) e da Cenibra, que é responsável pela conservação da área onde a planta foi identificada.
Descoberta não planejada
O achado aconteceu de forma inesperada. Otávio desenvolvia um projeto sobre a influência de fatores ambientais e humanos sobre espécies raras da Mata Atlântica quando, ao reavaliar uma das parcelas de monitoramento, se deparou com uma árvore florida de aparência incomum.
“Ela tinha folhas muito grandes, o que é raro na família Myrtaceae. Achei estranho, chamei meu colega Luiz Cláudio e começamos a investigar. A princípio achamos que fosse uma espécie já descrita, mas nenhuma correspondia completamente”, relata o pesquisador.
A confirmação de que se tratava de uma nova espécie veio após análises do professor Marcos Sobral, da Universidade Federal de São João del-Rei, referência no estudo da família Myrtaceae na América Latina. A identificação exigiu amostras com flores e frutos, elementos essenciais para a descrição botânica.
Biodiversidade sob proteção
O fragmento onde a árvore foi descoberta é monitorado desde 2002, em uma parceria entre a UFV e a Cenibra. Segundo o professor Carlos Torres, orientador da pesquisa, trata-se de uma área pequena, mas de alta relevância ecológica. “Das mais de 200 espécies vegetais registradas no local, cerca de 80 são exclusivas dessa área. Isso mostra como, mesmo em regiões bastante impactadas, ainda existem ilhas de biodiversidade que merecem atenção e cuidado”, afirma.
A descoberta da Myrcia magnipunctata reforça a importância das áreas privadas na conservação da biodiversidade brasileira, especialmente em biomas ameaçados como a Mata Atlântica. Iniciativas como a da Cenibra, que alia conservação com pesquisa científica, tornam possível a proteção de espécies ainda desconhecidas e a geração de conhecimento essencial para o manejo e a valorização dos recursos florestais nativos.